sábado, 16 de julho de 2016


O viajante


Nick era um menino, e nem ele mesmo sabia sua idade ao certo, pois quando não se sabe em que tempo está, é impossível saber quantos anos já viveu, Nick já foi normal, teve uma escola, pais, uma casa, roupas limpas, mas há muito tempo já não se lembra como é o cheiro de shampoo, Nick se encontra agora em um lugar que não há nada, não há cheiro, não há toque, não há cor, existe apenas Nick e vazio.
Vou lhes contar como tudo começou.
Nícolas vivia em Santa Catarina, Brasil.
Ele tinha doze anos quando percebeu que não é como as outras crianças de sua sala. Nick vinha de uma família comum, como todos em sua cidade, nem muito acima da média, mas também não abaixo dela.
Um dia, voltando pra casa, percebeu que havia esquecido seu celular na sala de aula, e, ao perceber isso, notou que estava de volta em sua sala, com seu professor falando, no fim da última aula. Lembrou que seu celular estava embaixo de sua mesa, o pegou, e, feito isso, estava de volta ao caminho de casa, ainda andando, mas dessa vez de fones de ouvido, que tocavam sua música preferida, “Hell's Bells” da banda de hard rock “AC/DC”.
Tentando entender o que havia acontecido no caminho, Nick passou direto por seus pais e foi se deitar, pensou em tudo o que um dia quis saber, todas as respostas que podiam ser respondidas com o dom que agora ele sabia que tinha, se perguntou sobre oque houve com Hitler, mas nada aconteceu, quis saber aonde estava escondida a arca da aliança, abriu seus olhos e ainda estava no seu quarto, pensou então em como seus pais o haviam feito, nesse instante, percebeu estar em um lugar muito escuro, como se toda luz houvesse sido extinta, mas, mesmo assim, ainda conseguia saber aonde estava, e oque acontecia a sua volta, não ouvia, e seu corpo já não era o mesmo, era menor, bem menor e sentia alegria, como nunca havia sentido antes, vibrações familiares vinham contra seu corpo e o fazia sentir calmo e protegido, era seu pai, ele sabia que era, seu pai o estava vendo, e lhe fazendo seus primeiros carinhos, enquanto Nick ainda estava dentro do útero de sua mãe, ali ele se sentia bem, se sentia como se nada o pudesse machucar, voltou à realidade, correu as escadas abaixo e pulou nos braços de seu pai, atitude que há muito tempo não tomava.
De volta ao quarto depois de assistir vários filmes junto de seus pais, quis saber porque Milena, sua última namorada, havia terminado com ele dois meses atrás, no mesmo instante que pensou nisso, se viu na rua, com ela em seus braços, como ele se sentia bem ali, até que percebeu que Alexandre um dos meninos do 1º ano, passava na frente dos dois, assim que ele passou, Milena o seguiu com os olhos e deu uma risadinha abafada, isso nunca havia passado pela mente de Nick, mas agora tudo fazia sentido.
Novamente em seu quarto, Nick notou o quão poderoso ele era agora, poderia mudar cada detalhe de sua vida, quantas vezes quisesse, começou por sua casa, pois odiava aquele lugar, quando acordou, estava no Rio Grande do Sul, morando com sua tia, que ele amava mais que tudo.
Depois, resolveu salvar seu melhor amigo Rich. Na hora de seu atropelamento, o puxou de volta à calçada, e agora ele morava do lado da casa de Nick.
Por último, resolveu mudar a cor de seus olhos, voltou quando ainda era um embrião, pensando em escolher os componentes químicos e hormonais que o formariam, mas algo saiu dos seus planos, e agora estava aqui, não sabia o porquê, mas ele se sentia muito sozinho ali.
Alena sentia-se horrivelmente mal ao jogar o absorvente com seu futuro filho Nícolas, ainda como um monte de gosma vermelha no lixo.
Dois dias antes Alena tinha ido ao médico, e, segundo ele, a gravidez estava normal, não sabia oque havia dado errado, mas com cinco semanas de gestação, seu filho havia decidido sair de dentro dela.

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