quinta-feira, 14 de julho de 2016


A mudança

Cristopher vivia em São Paulo/SP, num bairro de classe média baixa, tinha uma vida estereotipada, trabalhava e cursava o ensino superior, não namorava, pois não tinha tempo, não saia, pois não tinha tempo, não bebia, pois não tinha tempo, responsabilidades, ele tinha, cansaço, ele tinha, graves crises de enxaqueca, ele tinha. Mas tempo… Tempo era oque lhe faltava.
Um dia, acordou cedo para ir ao trabalho, como de costume, mas, algo não estava certo, na verdade, tudo estava diferente, nada era como quando havia ido dormir na noite passada.
Era como se todas as coisas, pessoas e lugares fossem os mesmos, mas, ao mesmo tempo, nada estivesse igual, como se ele fosse alguém diferente, sentia isso, sentia que algo, ou melhor tudo, havia mudado. Lembrar do passado lhe trazia uma sensação sufocante, pois suas lembranças agora eram cacos de uma grande tela em branco. Sua vida de antes daquele dia sumiu e nada era a mesma coisa.
Fora isso, havia uma sensação que durava menos de um segundo, mas que ainda assim o preocupava; ele sentia como se em menos de um instante, saísse de um mundo e entrasse em outro.
Não importava o quanto se esforçasse para entender, nada fazia sentido. Suicídio não ganhava crédito em sua mente, assassinato não lhe atraia, sexo não o despertava desejo, nada mais era como antes, não depois daquele sonho.
Na noite em que sua vida havia sumido, um sonho havia criado vida em sua mente embebida em endorfina, não conseguia lembrar o porquê, mas o sonha lhe assustara, fazendo com que pulasse ofegante da cama, não se lembrava do conteúdo do sonho em si, mas lembrava claramente do medo que sentira, e também de imagens vagas, sua visão turva e levemente escarlate, seus parentes mais próximos sendo torturados, os sons de seus gritos e seu choro.
Chegara a conclusão de que a realidade havia mudado, pois ele havia mudado; sua pele, clareou, seus cabelos outrora negros e lisos, agora tinha fios ondulados de um tom castanho, seus olhos marrons, tornaram-se claros, como que da cor do mel.
Agora já não era mais Cristopher, agora, me chamam de Yuki.

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